domingo, 1 de março de 2009

Adolescência

Ser-se adolescente aos 13 anos é diferente de o ser aos 17 anos. Interesses, gostos, atitudes, etc. marcam a diferença entre o início e o fim da adolescência, no entanto, parece-me que há linhas contínuas durante esses anos que definem o nosso evoluir para a idade adulta, a meu ver algumas ficam até à velhice. Depois de muito pensar sobre o que escrever acerca desse período da minha vida e qual a importância que terá para este processo de luto dei-me conta das minhas "linhas contínuas" e de como influenciaram a minha vida.

No final da minha primeira vida tive que fazer mudança de casa e voltar a viver com os meus pais, eles foram a única coisa que restou dessa vida. Entre outras coisas carreguei comigo uma tonelada de papéis, como em casa deles tinha deixado outra tonelada foi preciso escolher e deitar muita coisa fora; Ao remexer nessa papelada encontrei diários, agendas, cartas, desenhos,textos, poemas... uma boa ajuda para relembrar tempos passados. Encontrei um diário de 1984 (12 e 13 anos) e entre o que li e aquilo de que me recordo constatei que, excluindo o tempo que passava na escola, estava sempre em casa a ajudar nas tarefas domésticas, a estudar, a ver televisão e a desenhar.
Quanto aos estudos eu era bastante aplicada, era ambiciosa e queria ser sempre a melhor, estava assim habituada. Era a melhor aluna da turma em várias disciplinas e estava entre as melhores nas outras, orgulhava-me ao dar os testes a assinar ao meu pai com nota Excelente e a dizer Parabéns! ou dizer-lhe: "Foi o melhor teste da turma", nesse campo tinha uma alta auto-estima e era bastante segura.
A escola era o único sítio onde eu convívia com outros adolescentes, tinha um grupo de amigas com quem me divertia nas horas de almoço e nos "furos"; pelo que li no diário lembro-me que eramos bastante criativas nas nossas brincadeiras. Eis algumas passagens:

"Tive " feriado" a E.V. e nessas 2 horas joguei ao 35; almocei no refeitório com os meus colegas, o que provocou uma batalha de bocados de pão."
"Quando cheguei da escola fui almoçar e a seguir vi televisão, depois limpei o quarto do mano e à noite vi televisão outra vez"
"Tive "feriado" de manhã e fui ao"Foge"[laranjal onde os estudantes roubavam fruta para comer, ao lado tinha um pinhal com árvores frondosas]; esse lugar é encantador. Na parte da tarde fui para a árvore com a Paula e a Cláudia e começamos a construir uma cabana e inventámos um nome para o grupo."
"Tive um "feriado" de manhã e fomos para a cabana, estava destruída. Algumas quiseram desistir mas o entusiasmo das outras fez com que mudassem de ideias. Na parte da tarde almoçamos na árvore, fizemos sumo de laranja e comemos em conjunto."
"O lugar da cabana já é conhecido por mais gente, por isso destruímo-la mas o grupo ainda está formado e na quarta vamos fazer um piquenique"
"Era para ir a casa da Paula mas a minha mãe não me deixou, então passei o dia a desenhar e a fazer os trabalhos de casa."
"Tive "feriado" a Português e estive a ler livros. À tarde fui a casa da Isabel com a Paula para nos informarmos sobre a dança jazz mas o clube estava fechado."
"Perguntei ao meu pai se me deixava ir para a ginástica ou para a dança jazz mas ele disse logo que não. Fiquei muito desiludida."
"Desta vez almocei na escola, li uma data de livros e falei com as colegas. Também joguei futebol mas foi um bocado difícil porque, devido à chuva, o chão estava molhado."

Quero realçar que vivia num certo isolamento social e que este se reflectiu mais tarde em timidez e insegurança, mesmo em ingenuidade e falta de experiência de vida.Vivia num sítio isolado, sem amigos, tinha a companhia do meu irmão e de 2 primos. Não haviam telemóveis nem internet e nem toda a gente tinha telefone por isso quando as aulas acabavam, aos fins de semana e férias já não tinha contacto com mais nenhuma amiga; o tempo livre era ocupado a estudar, ler, ver tv e desenhar. Os meus pais também estavam sempre em casa, nunca iam ao café, a restaurantes, ao cinema, nunca passeavam aos fins-de-semana e nunca tiravam férias... Ainda assim eu era feliz, não se pode desejar ou sentir falta do que não se conhece.
Outras oportunidades de convívio e de experiências foram-me negadas: quis entrar para os escuteiros mas os meus pais não deixaram, quis praticar Karaté e não me deixaram, quando mostrei interesse pela dança jazz não me deixaram...
E namorados? Os meus pais educaram-me a evitar grandes proximidades com rapazes e eu era tímida com eles (não tinha amigos, só amigas) mas era simpática, inteligente, bonitinha, um corpo bem feito e tinha interessados, sendo uma adolescente normal também me interessei e aos 15 anos (quase 16) tive o primeiro namorico. Era o rapaz mais giro e mais cobiçado da turma, era mesmo um dos mais giros da escola, inteligente, bem humorado e bom jogador de futebol. Duas das minhas melhores amigas também gostavam dele mas isso não foi um problema. Estava no 9º ano, quando acabou o ano e mudei de escola acabou-se o namoro.

Continua...

2 comentários:

BrokenAngel disse...

UAU...

E como os nossos diários foram os nossos primeiros "bulogues"... não públicos, mas de libertação de palavras...

Será que tod@s os que mantemos esse hábito de libertar para o "papel", acabamos por nos afastar do resto das pessoas? É que revi-me em algumas passagens... e, apesar de tudo, soube bem...

:)

Nénix disse...

Olá BrokenAngel, obrigada pelo comentário. É bom saber que alguém me lê, volta sempre.