quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Auto-Retrato

Participação no blog FÁBRICA de LETRAS na categoria "Deixa-me Ver e Ouvir".

domingo, 1 de março de 2009

Adolescência

Ser-se adolescente aos 13 anos é diferente de o ser aos 17 anos. Interesses, gostos, atitudes, etc. marcam a diferença entre o início e o fim da adolescência, no entanto, parece-me que há linhas contínuas durante esses anos que definem o nosso evoluir para a idade adulta, a meu ver algumas ficam até à velhice. Depois de muito pensar sobre o que escrever acerca desse período da minha vida e qual a importância que terá para este processo de luto dei-me conta das minhas "linhas contínuas" e de como influenciaram a minha vida.

No final da minha primeira vida tive que fazer mudança de casa e voltar a viver com os meus pais, eles foram a única coisa que restou dessa vida. Entre outras coisas carreguei comigo uma tonelada de papéis, como em casa deles tinha deixado outra tonelada foi preciso escolher e deitar muita coisa fora; Ao remexer nessa papelada encontrei diários, agendas, cartas, desenhos,textos, poemas... uma boa ajuda para relembrar tempos passados. Encontrei um diário de 1984 (12 e 13 anos) e entre o que li e aquilo de que me recordo constatei que, excluindo o tempo que passava na escola, estava sempre em casa a ajudar nas tarefas domésticas, a estudar, a ver televisão e a desenhar.
Quanto aos estudos eu era bastante aplicada, era ambiciosa e queria ser sempre a melhor, estava assim habituada. Era a melhor aluna da turma em várias disciplinas e estava entre as melhores nas outras, orgulhava-me ao dar os testes a assinar ao meu pai com nota Excelente e a dizer Parabéns! ou dizer-lhe: "Foi o melhor teste da turma", nesse campo tinha uma alta auto-estima e era bastante segura.
A escola era o único sítio onde eu convívia com outros adolescentes, tinha um grupo de amigas com quem me divertia nas horas de almoço e nos "furos"; pelo que li no diário lembro-me que eramos bastante criativas nas nossas brincadeiras. Eis algumas passagens:

"Tive " feriado" a E.V. e nessas 2 horas joguei ao 35; almocei no refeitório com os meus colegas, o que provocou uma batalha de bocados de pão."
"Quando cheguei da escola fui almoçar e a seguir vi televisão, depois limpei o quarto do mano e à noite vi televisão outra vez"
"Tive "feriado" de manhã e fui ao"Foge"[laranjal onde os estudantes roubavam fruta para comer, ao lado tinha um pinhal com árvores frondosas]; esse lugar é encantador. Na parte da tarde fui para a árvore com a Paula e a Cláudia e começamos a construir uma cabana e inventámos um nome para o grupo."
"Tive um "feriado" de manhã e fomos para a cabana, estava destruída. Algumas quiseram desistir mas o entusiasmo das outras fez com que mudassem de ideias. Na parte da tarde almoçamos na árvore, fizemos sumo de laranja e comemos em conjunto."
"O lugar da cabana já é conhecido por mais gente, por isso destruímo-la mas o grupo ainda está formado e na quarta vamos fazer um piquenique"
"Era para ir a casa da Paula mas a minha mãe não me deixou, então passei o dia a desenhar e a fazer os trabalhos de casa."
"Tive "feriado" a Português e estive a ler livros. À tarde fui a casa da Isabel com a Paula para nos informarmos sobre a dança jazz mas o clube estava fechado."
"Perguntei ao meu pai se me deixava ir para a ginástica ou para a dança jazz mas ele disse logo que não. Fiquei muito desiludida."
"Desta vez almocei na escola, li uma data de livros e falei com as colegas. Também joguei futebol mas foi um bocado difícil porque, devido à chuva, o chão estava molhado."

Quero realçar que vivia num certo isolamento social e que este se reflectiu mais tarde em timidez e insegurança, mesmo em ingenuidade e falta de experiência de vida.Vivia num sítio isolado, sem amigos, tinha a companhia do meu irmão e de 2 primos. Não haviam telemóveis nem internet e nem toda a gente tinha telefone por isso quando as aulas acabavam, aos fins de semana e férias já não tinha contacto com mais nenhuma amiga; o tempo livre era ocupado a estudar, ler, ver tv e desenhar. Os meus pais também estavam sempre em casa, nunca iam ao café, a restaurantes, ao cinema, nunca passeavam aos fins-de-semana e nunca tiravam férias... Ainda assim eu era feliz, não se pode desejar ou sentir falta do que não se conhece.
Outras oportunidades de convívio e de experiências foram-me negadas: quis entrar para os escuteiros mas os meus pais não deixaram, quis praticar Karaté e não me deixaram, quando mostrei interesse pela dança jazz não me deixaram...
E namorados? Os meus pais educaram-me a evitar grandes proximidades com rapazes e eu era tímida com eles (não tinha amigos, só amigas) mas era simpática, inteligente, bonitinha, um corpo bem feito e tinha interessados, sendo uma adolescente normal também me interessei e aos 15 anos (quase 16) tive o primeiro namorico. Era o rapaz mais giro e mais cobiçado da turma, era mesmo um dos mais giros da escola, inteligente, bem humorado e bom jogador de futebol. Duas das minhas melhores amigas também gostavam dele mas isso não foi um problema. Estava no 9º ano, quando acabou o ano e mudei de escola acabou-se o namoro.

Continua...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O princípio do meu passado

Nasci na Primavera. Saudável e perfeitinha como todos os pais desejam. Quem partilhou os primeiros anos da minha vida diz que parecia uma boneca e que era vivaça, tão sociável que até estendia os braços aos homens do carro do lixo (nessa altura circulavam de dia). Também dizem que era "do contra" e para ilustrar essa ideia contam o episódio de quando um tio, por brincadeira, me ofereceu um copo de bagaço que eu logo recusei, para me testar proibiu-me de lhe mexer mas, sem cerimónias, mexi-lhe mesmo... é claro que o resultado foi amargo. A minha mãe diz que ainda hoje sou assim.
Fui amada e mimada, aos dois anos deram-me um irmão. O meu pai, carpinteiro, trabalhava de dia e estudava de noite e por isso só nos via quando estávamos a dormir. A minha mãe encarregava-se da casa e da nossa educação. De origens humildes, éramos também uma família humilde mas não nos faltava nada e os tempos eram de felicidade.

Entrei na escola aos sete anos e por isso até à faculdade fui sempre das mais velhas, talvez seja um dos motivos porque ainda hoje convivo com gente mais nova do que eu. Durante a instrução primária fui sempre a melhor aluna da classe, socializava bem com os colegas e era só na escola que convívia com outras crianças (o que viria a reflectir-se mais tarde). Esporádicamente tinha um ou dois amigos para brincar e os tempos livres eram ocupados a desenhar, a pintar e com trabalhos manuais. O desenho foi a maior companhia por muito tempo e ainda hoje estou ligada à criatividade artistíca através do design e de outras "manualidades". O futuro adivinhava-se risonho.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Passado

Quando encerramos um capítulo da nossa vida estamos simultâneamente a abrir outro, o fim é também o princípio. Se o capítulo que escrevemos não é o primeiro ele tem sempre subjacente todos os anteriores, são a sua base e o que dá consistência à história que se escreve. Ler apenas o último capítulo de uma história é descobrir os factos do seu final mas fica-se longe de a conhecer, compreender e apreciar, é assim como ouvir apenas o fim de uma anedota...
Quando a minha primeira vida acabou, e apesar do meu silêncio, disseram-me várias vezes "Tens que esquecer o passado" ou "O que passou, passou", talvez eu também o dissesse a alguém nas mesmas circunstâncias mas não quero ignorar os capítulos da minha história, tenho muito respeito pelo passado e não quero esquecê-lo, também não quero lembrá-lo com tristeza ou ressentimentos, eu apenas quero que o passado esteja q. b. no meu presente.
Tentar esquecer o passado é como varrer o lixo para baixo do tapete. Hoje, neste momento, eu sou todo o meu passado: o que vi e ouvi, as palavras que escutei e as que disse, todos os pensamentos e sentimentos que estas provocaram; sou as sensações que vivi, se compreendo a alegria e me compadeço com a dor é porque já as senti, se me afasto do lume é porque já me queimei, se sei a que sabem as lágrimas é porque já as provei! O passado é a bagagem que transportamos permanentemente, como se fosse mais uma camada da nossa pele, ele não se sente mas faz parte de nós.Nós somos o nosso passado e aquilo que fazemos com ele.

domingo, 15 de junho de 2008

Primeira Vida

Há dois anos que estou de luto, por mim própria. Morri aos 35 anos depois de um processo lento, longo e doloroso. Não foi cancro mas espalhou-se e foi corroendo a minha vida, não foi mal físico mas também me toldou os movimentos, não tive um acidente nem fiquei tetraplégica, não perdi a visão nem uma parte do corpo, não me viciei em drogas ou álcool, não passei fome nem frio, não morreu alguém próximo, não fiquei completamente só, não fiz deliberadamente mal a ninguém mas sofri, lenta e prolongadamente sofri sem saber porquê e assim fui morrendo.

Nestes dois anos já consegui atenuar as minhas dores, o tempo é um amigo silencioso que ajuda a esbater os desgostos, mas sinto que ainda não chorei tudo e é preciso por tudo cá fora para encerrar o luto pela minha primeira vida; Há coisas que ficaram por dizer e por fazer, também estas têm que ser resolvidas para que o ciclo se complete, sei que não irão mudar nada nesta nova vida mas algo tenho que fazer, mesmo que seja apenas escrever sobre elas. No fundo o que eu preciso é tirar certos sentimentos e pensamentos que ainda me corroem e depositá-los em alguém ou em algo. Quando morri já não tinha amigos íntimos para chorar as palavras que precisavam sair, quem seria amigo de verdade para chorar comigo, para escutar e sentir? Eu tentei mas a pessoa que procurei só estava disponível para os próprios problemas e a falta de interesse só me deixava pior, desisti. Na falta de alguém sobrou o "algo" e a solidão empurrou-me para a necessidade de escrever, o papel pode ser melhor confidente que certas pessoas e assim comecei a transferir para aí o que estava depositado no meu coração e na minha mente. Para um verdadeiro luto preciso de vasculhar o passado, que ficou como um fantasma destes 35 anos. Como o papel tem os dias contados e eu até sou moderna é aqui que vou registar os meus silêncios, mesmo que sejam só para mim...

sábado, 24 de maio de 2008

Alguém o sentiu

Amor,
Morreu assim
Uma lágrima perdida
Uma tristeza sem fim.

Amor,
Perdeu-se no caminho
Quando a felicidade quis chegar,
Fugiu...
Alguém o viu?

Amor,
Eterna espera do sorriso
Que a noite descobriu
Passou,
Mas alguém o sentiu...


Ag.88

Sentir


Ainda não encontrei o que procuro,
Não é uma forma de vida
Nem um modo de estar,
Nem de parecer
Mas de sentir.

É um desejo intenso
Que queima por dentro
E ninguém vê por fora,
É uma procura constante
Sem nunca me encontrar,
É um sentimento confuso
De querer ser amada e amar.

É sorrir, sentir o fogo pegar,
Uma sede de viver
E encontrando, nunca encontrar.

Fev.88