Nestes dois anos já consegui atenuar as minhas dores, o tempo é um amigo silencioso que ajuda a esbater os desgostos, mas sinto que ainda não chorei tudo e é preciso por tudo cá fora para encerrar o luto pela minha primeira vida; Há coisas que ficaram por dizer e por fazer, também estas têm que ser resolvidas para que o ciclo se complete, sei que não irão mudar nada nesta nova vida mas algo tenho que fazer, mesmo que seja apenas escrever sobre elas. No fundo o que eu preciso é tirar certos sentimentos e pensamentos que ainda me corroem e depositá-los em alguém ou em algo. Quando morri já não tinha amigos íntimos para chorar as palavras que precisavam sair, quem seria amigo de verdade para chorar comigo, para escutar e sentir? Eu tentei mas a pessoa que procurei só estava disponível para os próprios problemas e a falta de interesse só me deixava pior, desisti. Na falta de alguém sobrou o "algo" e a solidão empurrou-me para a necessidade de escrever, o papel pode ser melhor confidente que certas pessoas e assim comecei a transferir para aí o que estava depositado no meu coração e na minha mente. Para um verdadeiro luto preciso de vasculhar o passado, que ficou como um fantasma destes 35 anos. Como o papel tem os dias contados e eu até sou moderna é aqui que vou registar os meus silêncios, mesmo que sejam só para mim...
domingo, 15 de junho de 2008
Primeira Vida
Há dois anos que estou de luto, por mim própria. Morri aos 35 anos depois de um processo lento, longo e doloroso. Não foi cancro mas espalhou-se e foi corroendo a minha vida, não foi mal físico mas também me toldou os movimentos, não tive um acidente nem fiquei tetraplégica, não perdi a visão nem uma parte do corpo, não me viciei em drogas ou álcool, não passei fome nem frio, não morreu alguém próximo, não fiquei completamente só, não fiz deliberadamente mal a ninguém mas sofri, lenta e prolongadamente sofri sem saber porquê e assim fui morrendo.
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5 comentários:
Adorei os silêncios do seu blog...
PF - Câmara de Comuns
Adorei MESMO este texto.
Também eu me sinto à beira de uma morte urgente. Só morrendo este "eu" poderei recomeçar uma nova vida.
Mas eu não vou fazer luto por esta minha morte... irei usar vermelho desde o dia que me finar.
kiss*
Querida Gingerbread, é muito triste morrer em vida mas a parte boa é que podemos renascer como uma fénix, revigorada e ainda mais bela. Espero que o vermelho te fique bem, bj
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